As tentações de Cristo - 1

Category: By fernando777

Antes de começar seu ministério terreno, Jesus foi batizado no rio Jordão. Ao sair da água, desceu sobre ele o Espírito Santo e ouviu-se a voz do Pai que dizia: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo" (Mt.3.17). Aquele texto mostra a trindade reunida.

Depois da imersão na água, Cristo enfrentaria a areia seca e o sol escaldante. Após a experiência maravilhosa com o Pai, Jesus precisava ter um encontro com o inimigo. Foi então para o deserto (Mt.4.1), onde jejuou durante quarenta dias. Da mesma forma acontece conosco. Além dos momentos gratificantes, de regozijo e tranqüilidade, temos também os tempos de provação. Vivemos com Deus, mas enfrentamos o Diabo constantemente. Não podemos nos esquivar do confronto. Afinal, devemos estar preparados, como soldados, para o combate. Situações boas e ruins se revezam em nossas vidas, e não devemos estranhar que isto aconteça.

Após o jejum, o Diabo aparece. É algo estranho para nós, principalmente porque desejamos resultados positivos e imediatos nos nossos jejuns. Algumas pessoas usam a abstinência alimentar como se fosse moeda para negociar com Deus. Imaginam que o jejum possa criar direitos a serem exigidos (Is.58.3). Pelo contrário, esse deve ser um ato de renúncia, consagração, humilhação pessoal e culto a Deus, sem que se espere algo em troca.

Veio então Satanás com o propósito de impedir a obra de Cristo na terra. Esta era uma de suas intenções. Ele não pode destruir diretamente nenhum dos filhos de Deus, mas, através das tentações, procura levar-nos à auto-destruição. Além disso, o seu desejo é afrontar Deus, usurpando autoridade e adoração.

Assim, ele chega e diz: "Se tu és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães." (Mt.4.3). Lembremos-nos que, no batismo, o Pai declarou a filiação divina de Cristo. Portanto, após a proclamação da palavra de Deus, vem a palavra de Satanás para questionar e contradizer. O mesmo aconteceu no jardim do Éden. Deus deu claras instruções para Adão e Eva. Depois, veio a serpente para falar algo diferente. Hoje, também somos bombardeados por opiniões, conceitos, sugestões e conselhos que tentam conduzir a nossa vida por caminhos diferentes da orientação celestial.

Temos tantas palavras de Deus a nosso respeito, na bíblia e fora dela. São profecias e promessas, por meio das quais o Senhor declara a nossa condição de filhos. Temos ainda o testemunho do Espírito Santo em nossos corações (Rm.8.14-17). Contudo, Satanás nos ataca com suas palavras malignas: "Se tu és filho de Deus..."

A conjunção "se" pode sugerir uma dúvida. Jesus nunca duvidaria de sua condição de filho, mas nós podemos viver momentos de incerteza, se nos deixarmos levar pela linha de raciocínio do inimigo. Para isso, ele pode usar pessoas que questionam a nossa fé, de maneira crítica e destrutiva. Isto aconteceu também quando Cristo estava na cruz (Mt.27.40). Para o povo daquela época, não parecia lógico que alguém que se dizia filho de Deus pudesse sofrer e morrer.

Mas, quais são as verdadeiras evidências da nossa filiação divina? Alguns cristãos imaginam que, por serem filhos de Deus, têm direitos materiais adquiridos, devendo ser ricos, sempre saudáveis e imunes ao sofrimento. Tais expectativas são ilusões anti-bíblicas. Se aceitarmos esse tipo de doutrina, poderemos questionar nossa adoção espiritual diante das dificuldades que nos acometem. A bíblia não prometeu uma vida fácil e sempre agradável para os filhos de Deus. É certo que teremos vitórias, mas, para isso, haveremos de enfrentar muitas lutas nas mais diversas áreas (João 16.33). Algumas adversidades terminam e outras começam. Só deixarão de existir quando entrarmos na glória celestial.

A frase satânica parece ter um tom sarcástico. É como se ele dissesse: "Se tu és filho de Deus, por quê estás com fome? Por quê estás sem comida? Só te restam estas pedras"? Aquela condição de escassez não alterava em nada a posição espiritual de Cristo ou sua identidade.

O que garante que nós também somos filhos de Deus? É o fato de termos sido adotados por ele. Éramos, por natureza, filhos do diabo (João 8.44), filhos da desobediência (Ef.2.2), filhos da ira (Ef.2.3). Contudo, quando recebemos o Senhor Jesus como nosso Salvador pessoal, tornamo-nos filhos de Deus (João 1.11-12; I João 5.1). Este é um fato consumado que conhecemos através da bíblia e apropriamos quando cremos. O inimigo tenta plantar a dúvida em nossos corações, mas devemos proclamar a palavra de Deus, que é o combustível da nossa fé. Não é a vultosa conta bancária que testifica que somos filhos, mas é o que Deus disse a nosso respeito nas Sagradas Escrituras. Sabemos que somos filhos do Senhor (I João 3.1-2), e isto não depende das circunstâncias, dos sentimentos, das emoções, ou das posses materiais.

O pai dá boas dádivas aos filhos (Mt.7.9-11), mas a filiação também não depende disso. Não devemos duvidar da nossa condição espiritual pelo fato de Deus não nos ter dado alguma coisa que lhe pedimos. Satanás disse: "Se tu és filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". Jesus não precisava fazer milagres para provar nada ao Diabo. Nós também não precisamos ficar preocupados em oferecer esse tipo de prova para aqueles que nos rodeiam. Uma manifestação de poder não constituiría prova suficiente. Havia outras evidências muito mais contundentes e valiosas.

O filho tem a natureza do pai. Ele se parece com o pai. A vida e o caráter de Jesus eram os maiores testemunhos de que ele era e é o Filho de Deus. Da mesma forma, nosso vínculo com o Senhor deve ser demonstrado através do nosso caráter e da nossa vida, sendo imitadores do Pai, manifestando sua natureza e suas virtudes através das nossas palavras e ações (Ef.5.1; II Pd.14; Gal.5.22).

Acolher a dúvida pode ser o primeiro passo em direção ao abismo. O inimigo, que jamais poderá ser filho de Deus, quer minar a nossa fé, fazendo-nos desviar do caminho que o Senhor traçou para nós. A resposta de Jesus foi uma citação bíblica: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Dt.8.3). Nós também precisamos estar cheios da palavra de Deus, pois ela é uma das armas que usaremos nos confrontos com o adversário. Assim, não ficaremos mudos diante dele. Jesus venceu e nós podemos vencer também porque "em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou" (Rm.8.37).

Anísio Renato de Andrade –

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